Filosofia de irmãos
É sempre bom passar tempo com a irmã felina.
Ok, ela é uma besta (tem a quem sair), tem um mau feitio que vai de Gotemburgo a Sidney (tal como eu) e uma língua deveras afiada (esse pormenor, não sei a quem sai...). O que proporciona momentos de dissertação filosófica muito interessantes sobre os assuntos mais banais que existem.
Um pequeno excerto da nossa tarde.
- Olha lá, quando é que deixas de beber essa zurrapa? - dsse ela.
- Zurrapa? Ó meia leca, isto é whisky de malte 20 anos. Tem quase a tua idade, pá.
- Grande treta. Já tens idade para ter melhor gosto.
- O quê? Beber aquelas misturas esquisitas que tu bebes e que negas à entidade paternal que o fazes? Não sei se sabes mas beber vodka preta deixa vestígios. Portanto, ou cada vez que sais à noite comes chocos ou então vais ter de subir a parada em desculpas da treta...
- Olha, diz-me uma coisa. Qual é o teu conceito sobre manipulação?
- Shows de marionetas? Odeio. Nunca gostei dessa bonecada tirando os Marretas. Tu gostavas, ofereci-te um Cocas quando eras pequena.
- Não, parvo. Manipulação mesmo...
- Somos todos profissionais nela. Doutorados sem licenciaturas.
- Como assim?
- Simples. Já foste criança, não foste? Aliás, para mim serás sempre uma pita. Então aprendeste precocemente o conceito de manipulação. Chateaste os pais para obteres o que querias, choraste, berraste, atiraste-te para o chão, penduraste-te no candelabro da sala...
- Sério, eu pendurei-me no candelabro?
- Nao, isso sou apenas eu a acrescentar dramatismo a todas as tretas que armaste. Minha petit fleur, a vida funciona desta forma... Todos nós temos um conhecimento profundo de certos aspectos negativos ou menos bons da personalidade humana. A verdadeira questão de um milhão de dólares é se fazes uso desses mesmos aspectos ou não. Basicamente é aquilo que te digo à anos. Todos conhecemos as regras do jogo, a questão é se o queres jogar ou não.
- Hummmm...
- Isso quer dizer o quê?
- Ficas muito filosófico quando bebes...
- É...E a menina fica muito eufórica. Bebe e cala-te...
- Eufórica?
- É...Tens de começar a ir a sítios onde o barman não saiba quem tu és e o mesmo não tenha o meu nº de telefone. Tal como te disse, serás sempre a minha pita piquena. Logo, tenho de olhar por ti, mesmo que vomites uma coisa fluorescente no balcão de um bar no Bairro Alto...